sexta-feira, 12 de março de 2010

BENDITO CARRINHO DE SUPERMERCADO!

Todo mês a mesma coisa! Adaptar à rotina frenética da minha vida a abençoada lista de compras. No fundo eu até gosto, pois não deixa de ser um momento em que me sinto mais íntima da minha própria casa. Entre marcas de biscoito, quantidade de carne, peixe e frango consumidos,e aromas de sabonetes; posiciono-me como a dona da casa, e consequentemente dona daquelas tão amadas vidas que aguardam ansiosamente a chegada das sacolas do supermercado.
Mas foi neste último mês que algo interessante aconteceu. Depois de uma hora e meia escolhendo os produtos e enchendo o carrinho, simplesmente abandonei-o no meio do supermercado. É que ele estava com a roda presa e isto me estressou tanto, mais tanto que... Ufa! Resolvi abandoná-lo a própria sorte. Decisão que jamais tomaria tempos atrás.
Imediatamente após ter cometido o ato desvairado, ainda no supermercado, tentei tomar um cafezinho, que só não estava melhor porque coloquei adoçante onde já havia açúcar, dei a última olhada para o carrinho abandonado (que,aliás,se tivesse vida suplicaria para que a drástica decisão fosse reconsiderada), e fui para casa.
A verdade é que arrumei uma desculpa para justificar a minha atitude. Durante as compras eu observava que parte das pessoas estava com os seus pares, dividindo um momento que também pode ser feito a dois. Isto me fez refletir o quanto,ao longo dos anos, absorvi esta e tantas outras tarefas e adaptei-as ao meu cotidiano sem pedir qualquer tipo de ajuda. Não sei se por orgulho, ou por pensar que determinadas coisas não precisam ser pedidas. Sei lá! Sempre me preocupei em servir, atender, suprir; e acabei encenando a Mulher Maravilha para compensar os momentos de ausência, conseqüência da minha rotina de trabalho.
Porém, ao abandonar o carrinho de compras “roda-presa” percebi que naquele momento eu estava na verdade me libertando de um compromisso que somente agora percebia que não precisava ser somente meu. Esta atitude foi um grito magnífico: QUERO SER CUIDADA!
Cheguei até aqui achando que cuidar integralmente do outro era requisito básico para a felicidade, ou que não deixar nada faltar para o outro era como um troféu recebido. Claro que fui feliz enquanto acreditei nisto; mas acho que serei mais feliz agora, momento em que percebi que preciso deixar de encenar a Mulher Maravilha.
Pronto! Não quero mais ser a dona da casa, e sim sócia da casa,que um dia voltar a compartilhar com o outro.
Jamais imaginei que uma tentativa frustrada de compras, aliada a tentativa mais frustrada ainda de saborear um café, pudesse acrescentar tanto na vida de uma mulher.
Bendito carrinho de compras “roda-presa”!














Cátia Corrêa dos Santos
08/03/2010

AH!... O CARNAVAL.

Nossa! Estou comemorando hoje 43 anos de carnaval.
Tudo bem! Eu tenho 43 anos de idade e certamente não me recordo dos primeiros cinco carnavais da minha vida, momento em que sem sombra de dúvidas mamãe já deveria se encarregar de me fantasiar para a grande festa.
Mas depois dos cinco anos de idade tenho guardado na memória que eu e meu irmão éramos fantasiados de índios. Até aí tudo bem! O problema era que mamãe queria que vivêssemos o papel com realidade. A minha fantasia era branca, cheia de penas, tinha também machado, cocar; já a fantasia do meu irmão, apesar de ser idêntica a minha, pecava pela cor forte, aliás, muito forte. Era coral. Imagine! Esse “indiozinho” chorava, esperneava na tentativa inútil de demonstrar a sua insatisfação; mas lá íamos nós após o protesto. Felizes, apesar de tudo! Afinal, esperávamos pelo carnaval um ano inteirinho.
Cresci e continuei aguardando ansiosamente pela grande festa e agradecendo ao fato da fantasia de índio não mais caber em mim, confesso! Porém, nesta nova etapa da vida, a grande festa passou a ser: preparar e apresentar as belas fantasias nos bailes noturnos, cair na farra dos blocos, paquerar e até me apaixonar. No último dia, tristeza! O carnaval se despedia, mas sempre com a forte promessa de voltar no próximo ano.
Na verdade, acho que o tempo passou muito depressa. Mas mesmo assim percebi que continuo até hoje aguardando pelo carnaval, não mais com a inocência da infância, ou com deliciosa volúpia da juventude; porém com a tranqüilidade que marca esta minha nova fase da vida.
E por que ainda espero? Porque entendi que seja em casa, na praia, no recolhimento dos retiros, nos hotéis-fazenda, nos bailes de máscaras, nas avenidas ou clubes, sambando, lendo ou escrevendo... Onde eu estiver, o carnaval sempre passará deixando ao meu entender uma simples mensagem: “Ano que vem eu volto, e apenas espero te encontrar feliz”!
Iniciei dizendo que estou comemorando os inúmeros carnavais da minha vida. Tudo bem! Não planejei fantasias, não vou a nenhum baile, tampouco programo uma farra no bloco do bairro. Paquerar e me apaixonar? Até que não é má idéia! Mas, acredite! Hoje, também comemoro com alegria, pois planejei um almoço com amigas, estou escrevendo esta crônica, amanhã vou arrumar o armário, pegar um solzinho em casa mesmo e assistir ao carnaval pela tv. Verdade! Pela TV consigo observar carinhosamente a riqueza cultural desta festa de ritmos diversos, de danças “calientes”, de fantasias exuberantes e criativas que cada estado brasileiro conserva tão bem. Gosto de observar os rostos, os sorrisos, a entrega. Gosto, porque assim consigo lembrar dos antigos carnavais, do quanto eu os esperava e da alegria imensa que sentia quando “ele” enfim chegava. Era realmente uma alegria contagiante!
Enfim, percebo que o tempo passou, o carnaval mudou; mas eu também mudei. E muito! Mudei tanto que consigo sentir hoje a forte alegria que na infância e na adolescência me contagiavam durante os quatro dias da esperada festa, ainda que realizando atividades tão diferentes daquelas de anos atrás.
Hoje, como em todos os anos estou mais uma vez curtindo as doces lembranças de um tempo que certamente não voltará da forma como era, mas que nem por isso deixa de ser o meu maravilhoso tempo.










Cátia Corrêa dos Santos
Rio, 16/02/2010

SOMENTE UMA PIZZA DE MUSSARELA

Claro que não é uma pizza qualquer, e sim a de mussarela.
É verdade que procuro manter uma alimentação saudável ao longo da semana; gosto, por exemplo, de preparar um café da manhã nutritivo, no almoço busco os pratos coloridos e leves, iogurte no lanche da tarde, porém não abro mão do reforço no cardápio do jantar. Aí sim! A maravilhosa comidinha caseira. Tudo bem! Preciso confessar que entre estas refeições não resisto a um cafezinho, é que também não sou de ferro!
Mas quando vai chegando sexta-feira, me realizo. Suspendo o jantar caseiro e me delicio com a pizza. Adoro pizza! Especialmente a de mussarela, apesar das críticas que recebo por causa da simplicidade do sabor. Vai entender!
Sexta-feira passada não foi diferente. Cheguei a casa, tomei um banho refrescante, vesti o pijaminha básico, calcei o chinelo de espuma (quase uma pantufa), alcancei o livro e me acomodei na confortável cadeira que, aliás, parece me esperar sempre com um abraço. E foi assim que aproveitando o silêncio e aconchego da casa, iniciei aquele que é um dos meus programas prediletos: ler.
Passado algum tempo; ou melhor, muito tempo, resolvi pedir pelo telefone a tão esperada pizza de mussarela. Hum! Salivei apenas por imaginar aquele cheirinho tomando conta da minha cozinha. Então, animadamente arrumei a mesa, com direito a uma taça delicada de vinho tinto suave e toalha bordadinha. Ficou tão bonita a mesa! E o melhor, é que era todinha para mim. Estava pronta a programação da noite.
Mas ao admirar todo aquele cenário, pensei na preocupação excessiva que temos em satisfazer a todos aqueles que estão a nossa volta; o que é uma atitude caridosa e demonstra muita grandeza, porém não nos damos conta de que na maioria dos casos uma vida inteira se passa sem que consigamos satisfazer a nós mesmos.
Curti a bonita mesa sem culpas, sem me achar egoísta por preparar aquela festinha individual com tanto carinho. Apenas pensei no quanto de satisfação poderia me proporcionar e o quanto de alegria armazenaria no coração.
Me senti feliz! Por que devo ter vergonha de admitir isto? Claro que pode parecer estranho constatar toda esta felicidade apenas admirando uma mesa delicadamente arrumada a espera de uma pizza de mussarela.
Concordo! Mas, naquele momento estava fazendo o que poucas pessoas se permitem fazer: simplificar a vida e respeitar as próprias vontades. É exatamente desta forma que tenho tentado fazer bem a mim e a todas as pessoas que recebo com tanto carinho e aconchego em minha vida; ainda que elas não gostem de pizza de mussarela.

Cátia Corrêa dos Santos
10/03/2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

APENAS UM CAFÉ?




Adorava quando aos domingos, eu e a família íamos visitar a minha avó. A sua casa era pequena, mas muito aconchegante. Lembro-me de alguns detalhes da decoração, como: o radinho de pilha enfeitando a sua mesa de cabeceira, a colcha da cama e os tapetes de retalho que ela mesma costurava a mão, a cristaleira que guardava louças antigas e delicadas e a varanda com uma mesa de madeira acompanhada de duas cadeiras e um enfeite do qual infelizmente não consigo me lembrar. Mas um objeto em especial me chamava muita atenção. Era o bule. Na verdade ele nunca estava sozinho, era acompanhado de um kit: o coador de pano e a colher de pau, que não tenho medo de arriscar, já deveria acompanhar a minha avó a mais ou menos 30 anos.
Existia um ritual que começava no acompanhamento da temperatura da água, na embalagem do coador, nas canequinhas de ágata arrumadas sobre a mesa... E de repente, um cheiro delicioso tomava todo a casa. Aliás, sentia-se o cheiro lá do quintal! Pronto! Era a hora de saborear o café que sempre vinha acompanhado de bolinhos de chuva salpicados de açúcar e canela. Delícia!
Considero isto uma verdadeira herança deixada pela minha avó, pois hoje o meu ritual do café ( de cafeteira, confesso!) é sem dúvida um momento de doces lembranças, de reflexão, ou simplesmente de pausa para continuar as tarefas do dia. Porém o que mais me agrada é arrumar o balcão da cozinha com louças delicadas (Como as de vovó) e preparar um delicioso café para servir aos amigos. O cheiro invade a cozinha e me alegra a alma, além de ser a forma que encontro para dizer o quanto gosto de cada um desses amigos.
Nossa! Alí conversamos “abobrinhas”, confidenciamos tantas coisas, trocamos experiências e muitas vezes também, um silêncio profundo invade o ambiente, e logo é quebrado pela frase: Mais um cafezinho? Olha aí o café amenizando o clima de dor, de saudade, de tristeza, de ansiedade; e possibilitando mais uma vez a reflexão.
Engraçado! Somente agora escrevendo percebi que não convido todas as pessoas que conheço para tomar café comigo. Sei lá por que! Aliás sei mas, não gostaria de falar sobre isso agora.
Entendo que a evolução não pára. Visito regularmente as modernas cafeterias dos shopping centers, sozinha ou com amigos. Nelas eu também consigo meditar, tomar decisões, ouvir confidências; e também observar: a decoração sofisticada, os funcionários bem treinados servindo sucos, bolos, tortas, salgados (Não os vejo servindo bolinhos-de-chuva é verdade!). Enfim, leio algumas revistas antigas, descanso em sofás confortáveis. Ah! Já ia esquecendo: Navego na internet (risos). Bacana, mesmo! Este cenário somente reforça aos apreciadores do café, o quanto é importante o ritual em qualquer tempo.
Confesso que sinto falta e até hoje procuro, em casa ou nas cafeterias, o cheiro do café com o bolinho de chuva de vovó, porque embora muitos anos tenham se passado, sou feliz hoje, por entender que precisarei sempre recorrer ao cheiro que me remete a um tempo onde todas as coisas eram muito mais simples. Quem sabe assim eu consiga, entre uma xícara e outra, simplificar também a minha vida moderna!
Pena não poder agradecer pessoalmente a vovó por esta preciosa herança. Mas...
É domingo. Vou preparar um café!


Cátia C Santos
12/12/2009

DECIDI E PRONTO!



Domingo é um dia diferente para mim. Verdade! Resolvi que as visitas (amigos que aliás gosto muito de receber) não mais serão convidados neste dia da semana, mas na sexta-feira ou sábado. Isso mesmo! Elegi o domingo para o descanso, as reflexões, o café da manhã sem hora certa de começar, o almoço no restaurante ou o churrasquinho no quintal, regar as plantas e ler o jornal. Ah, o jornal! Não abro mão desta prática.
Foi então que ao folhear o meu companheirinho dominical, entre a leitura de uma e outra coluna, elegi aquela que me fez pensar pelo resto do dia.
Tratava-se da história de um sábio que depois de observar um homem bom, mas muito atarefado, estressado, materialista, prático, cheio de verdades absolutas... Acho até que conheço alguém assim! Enfim, o sábio então perguntou calmamente ao homem: “Como sabe se tomou a melhor decisão na sua vida?” E este prontamente respondeu: “Tomo a decisão que me faz feliz, isto significa que esta foi correta”.
Prontamente parei a leitura, analisei a minha vida, as minhas escolhas e cheguei à conclusão de que se o sábio estivesse em minha casa naquele momento (Abriria até uma exceção de recebê-lo no domingo) e me fizesse a mesma pergunta, eu prontamente responderia que a melhor decisão seria aquela que deixasse o maior número de pessoas felizes, equilibradas, seguras; especialmente aquelas mais ligadas a mim; ainda que para isso fosse necessário abrir mão de alguns sonhos.
Claro que seria muito mais prático agir e pensar como o homem bom que foi interrogado pelo sábio. Porém dentre tantas responsabilidades profissionais, familiares, conjugais, afetivas e várias outras que assumimos ao longo da vida, precisamos aprender a decidir o melhor rumo para cada uma delas. Caramba! Decidimos todos os dias e não nos damos conta de que este ato (que se tornou mecânico), sempre gera a escolha de um caminho.
Vejamos: Faço ou não o concurso? Deixo de trabalhar? Meu filho vai para creche? Portugal ou Itália? Casar? Divórcio? Ligo para ele? Guardo o dinheiro? Praia ou serra? Compro o carro? Que religião seguir? Casa ou apartamento? À vista ou parcelado? Até logo ou Adeus?
Acredito sinceramente que cada um de nós comanda um navio. Navio este, cheio de pessoas que embarcaram por acreditar na capacidade de liderança, tranqüilidade e segurança que transmitimos a elas. No meio da viagem claro que podemos fazer uma mudança de rota, alicerçados em motivos pessoais. Por que não? Porém, precisamos pensar no caos que será provocado na vida de cada uma dessas importantes pessoas.
Não vamos carregar o mundo nas costas, é certo! Mas, vale a pena preparar calmamente aqueles que em nós confiaram os seus sonhos e as suas expectativas. Afinal, quem conseguiria ao olhar para trás, ser verdadeiramente feliz sabendo que gerou tristeza, insegurança e desequilíbrio quando resolveu em nome da felicidade pessoal fazer uma mudança de rota?
Respirar! Respirar! Respirar mais um pouco, e confiar no tempo, pois ele nos ajudará verdadeiramente a tomar a decisão que sem dúvida, deixará o maior número de pessoas felizes, inclusive nós, os comandantes deste gigante e maravilhoso navio: a nossa vida.




Cátia Corrêa dos santos
16/01/2010