segunda-feira, 1 de março de 2010

APENAS UM CAFÉ?




Adorava quando aos domingos, eu e a família íamos visitar a minha avó. A sua casa era pequena, mas muito aconchegante. Lembro-me de alguns detalhes da decoração, como: o radinho de pilha enfeitando a sua mesa de cabeceira, a colcha da cama e os tapetes de retalho que ela mesma costurava a mão, a cristaleira que guardava louças antigas e delicadas e a varanda com uma mesa de madeira acompanhada de duas cadeiras e um enfeite do qual infelizmente não consigo me lembrar. Mas um objeto em especial me chamava muita atenção. Era o bule. Na verdade ele nunca estava sozinho, era acompanhado de um kit: o coador de pano e a colher de pau, que não tenho medo de arriscar, já deveria acompanhar a minha avó a mais ou menos 30 anos.
Existia um ritual que começava no acompanhamento da temperatura da água, na embalagem do coador, nas canequinhas de ágata arrumadas sobre a mesa... E de repente, um cheiro delicioso tomava todo a casa. Aliás, sentia-se o cheiro lá do quintal! Pronto! Era a hora de saborear o café que sempre vinha acompanhado de bolinhos de chuva salpicados de açúcar e canela. Delícia!
Considero isto uma verdadeira herança deixada pela minha avó, pois hoje o meu ritual do café ( de cafeteira, confesso!) é sem dúvida um momento de doces lembranças, de reflexão, ou simplesmente de pausa para continuar as tarefas do dia. Porém o que mais me agrada é arrumar o balcão da cozinha com louças delicadas (Como as de vovó) e preparar um delicioso café para servir aos amigos. O cheiro invade a cozinha e me alegra a alma, além de ser a forma que encontro para dizer o quanto gosto de cada um desses amigos.
Nossa! Alí conversamos “abobrinhas”, confidenciamos tantas coisas, trocamos experiências e muitas vezes também, um silêncio profundo invade o ambiente, e logo é quebrado pela frase: Mais um cafezinho? Olha aí o café amenizando o clima de dor, de saudade, de tristeza, de ansiedade; e possibilitando mais uma vez a reflexão.
Engraçado! Somente agora escrevendo percebi que não convido todas as pessoas que conheço para tomar café comigo. Sei lá por que! Aliás sei mas, não gostaria de falar sobre isso agora.
Entendo que a evolução não pára. Visito regularmente as modernas cafeterias dos shopping centers, sozinha ou com amigos. Nelas eu também consigo meditar, tomar decisões, ouvir confidências; e também observar: a decoração sofisticada, os funcionários bem treinados servindo sucos, bolos, tortas, salgados (Não os vejo servindo bolinhos-de-chuva é verdade!). Enfim, leio algumas revistas antigas, descanso em sofás confortáveis. Ah! Já ia esquecendo: Navego na internet (risos). Bacana, mesmo! Este cenário somente reforça aos apreciadores do café, o quanto é importante o ritual em qualquer tempo.
Confesso que sinto falta e até hoje procuro, em casa ou nas cafeterias, o cheiro do café com o bolinho de chuva de vovó, porque embora muitos anos tenham se passado, sou feliz hoje, por entender que precisarei sempre recorrer ao cheiro que me remete a um tempo onde todas as coisas eram muito mais simples. Quem sabe assim eu consiga, entre uma xícara e outra, simplificar também a minha vida moderna!
Pena não poder agradecer pessoalmente a vovó por esta preciosa herança. Mas...
É domingo. Vou preparar um café!


Cátia C Santos
12/12/2009

DECIDI E PRONTO!



Domingo é um dia diferente para mim. Verdade! Resolvi que as visitas (amigos que aliás gosto muito de receber) não mais serão convidados neste dia da semana, mas na sexta-feira ou sábado. Isso mesmo! Elegi o domingo para o descanso, as reflexões, o café da manhã sem hora certa de começar, o almoço no restaurante ou o churrasquinho no quintal, regar as plantas e ler o jornal. Ah, o jornal! Não abro mão desta prática.
Foi então que ao folhear o meu companheirinho dominical, entre a leitura de uma e outra coluna, elegi aquela que me fez pensar pelo resto do dia.
Tratava-se da história de um sábio que depois de observar um homem bom, mas muito atarefado, estressado, materialista, prático, cheio de verdades absolutas... Acho até que conheço alguém assim! Enfim, o sábio então perguntou calmamente ao homem: “Como sabe se tomou a melhor decisão na sua vida?” E este prontamente respondeu: “Tomo a decisão que me faz feliz, isto significa que esta foi correta”.
Prontamente parei a leitura, analisei a minha vida, as minhas escolhas e cheguei à conclusão de que se o sábio estivesse em minha casa naquele momento (Abriria até uma exceção de recebê-lo no domingo) e me fizesse a mesma pergunta, eu prontamente responderia que a melhor decisão seria aquela que deixasse o maior número de pessoas felizes, equilibradas, seguras; especialmente aquelas mais ligadas a mim; ainda que para isso fosse necessário abrir mão de alguns sonhos.
Claro que seria muito mais prático agir e pensar como o homem bom que foi interrogado pelo sábio. Porém dentre tantas responsabilidades profissionais, familiares, conjugais, afetivas e várias outras que assumimos ao longo da vida, precisamos aprender a decidir o melhor rumo para cada uma delas. Caramba! Decidimos todos os dias e não nos damos conta de que este ato (que se tornou mecânico), sempre gera a escolha de um caminho.
Vejamos: Faço ou não o concurso? Deixo de trabalhar? Meu filho vai para creche? Portugal ou Itália? Casar? Divórcio? Ligo para ele? Guardo o dinheiro? Praia ou serra? Compro o carro? Que religião seguir? Casa ou apartamento? À vista ou parcelado? Até logo ou Adeus?
Acredito sinceramente que cada um de nós comanda um navio. Navio este, cheio de pessoas que embarcaram por acreditar na capacidade de liderança, tranqüilidade e segurança que transmitimos a elas. No meio da viagem claro que podemos fazer uma mudança de rota, alicerçados em motivos pessoais. Por que não? Porém, precisamos pensar no caos que será provocado na vida de cada uma dessas importantes pessoas.
Não vamos carregar o mundo nas costas, é certo! Mas, vale a pena preparar calmamente aqueles que em nós confiaram os seus sonhos e as suas expectativas. Afinal, quem conseguiria ao olhar para trás, ser verdadeiramente feliz sabendo que gerou tristeza, insegurança e desequilíbrio quando resolveu em nome da felicidade pessoal fazer uma mudança de rota?
Respirar! Respirar! Respirar mais um pouco, e confiar no tempo, pois ele nos ajudará verdadeiramente a tomar a decisão que sem dúvida, deixará o maior número de pessoas felizes, inclusive nós, os comandantes deste gigante e maravilhoso navio: a nossa vida.




Cátia Corrêa dos santos
16/01/2010